A comunicação é uma das ferramentas mais poderosas que possuímos para construir relacionamentos saudáveis e promover um ambiente positivo. Visando à importância de se comunicar com assertividade, o renomado psicólogo americano Marshall Rosenberg criou a metodologia chamada Comunicação Não-Violenta (CNV), que enfatiza a importância de se expressar com clareza e empatia, ao mesmo tempo em que se mantém o respeito pelos sentimentos e necessidades dos indivíduos.
Entenda como essa prática pode ajudar a melhorar sua comunicação com seu filho(a).
O que é Comunicação Não-Violenta?
Segundo o site CNV Brasil, A Comunicação Não-Violenta é uma prática que propõe uma nova forma de se relacionar, e que apresenta ferramentas úteis para superar os desafios que aparecem nas nossas relações que são causados pela forma que nos comunicamos, ou até mesmo, pelo que deixamos de falar por medo do conflito. Ela propõe 4 focos de atenção para orientar a nossa comunicação:
1. Observação:
Descreva as situações de maneira objetiva, sem julgar ou criticar. Essa etapa é essencial para que os filhos não se sintam atacados e possam entender o que está sendo dito.
Por exemplo: se estou com alguém e digo “têm três copos e um livro em cima da mesa” ela pode ver e comprovar, com seus próprios olhos, o que eu digo. A observação é essencial para a CNV por nos aproximar de uma leitura de realidade compartilhada, na qual estamos de acordo sobre o que foi feito ou dito, e isso diminui as barreiras para seguirmos a conversa.
Imagine que, para descrever uma situação, você diz ao seu filho: “Quando cheguei em casa, a louça estava na pia.” Ou, em vez disso, diz: “Você nunca faz o que promete, você é um bagunceiro!”
Em qual situação você imagina que o seu filho teria mais disponibilidade para continuar te escutando?
Dificilmente, a outra pessoa discordará do fato que a louça esteja na pia. Mas escutar que sempre faz isso ou que é uma bagunceira, provavelmente irá despertar reatividade e defesa na outra pessoa.
2. Sentimentos:
Compartilhe seus sentimentos de forma honesta e aberta. Isso ajuda os filhos a se conectarem emocionalmente com o que está sendo dito e a entenderem melhor as emoções dos pais. Expressar os nossos sentimentos, trazendo a nossa vulnerabilidade, nos aproxima uns dos outros.
O desafio é que a maior parte de nós não teve uma alfabetização emocional e costuma misturar o que pensa com o que sente. É comum, ao perguntarem “e o que você está sentindo?”, respondermos algo como “Eu sinto que isso vai dar errado” ou “Eu sinto que ele está me desrespeitando”.
Percebe que essas frases não falam sobre sentimentos, mas sim sobre pensamentos sobre a situação ou sobre outra pessoa? Isso também acontece com algumas palavras que parecem descrever sentimentos, mas que contam mais dos nossos julgamentos das ações dos outros, como “eu me sinto injustiçada” ou “eu me sinto humilhado”. O Marshall chamou essas palavras de pseudo-sentimentos.
Na Comunicação Não-Violenta, sentimentos são mensageiros de necessidades atendidas ou não atendidas. Ampliar o nosso vocabulário de sentimentos faz com que seja mais fácil nos conectarmos às outras pessoas quando contamos da nossa experiência e também ajuda a estar atento à mensagem que o sentimento transmite. A CNV Brasil listou sentimentos, que podem te apoiar na expansão do seu vocabulário.
3. Necessidades:
Identifique as necessidades que estão por trás dos sentimentos. Ao comunicar essas necessidades, os pais ajudam os filhos a compreenderem o que realmente importa para eles.
As necessidades são as motivações que nos levam a fazer, falar e escolher. Marshall Rosenberg dizia que “por trás de toda ação, existe uma necessidade humana universal”, ou seja, todas as pessoas, independente da idade, gênero, classe social, tempo ou lugar em que viveu, possuem as mesmas necessidades. Essa compreensão faz com que seja mais fácil, em uma conversa difícil por exemplo, buscarmos pelo que há de comum entre nós, nos conectando com a nossa humanidade compartilhada.
4. Pedidos:
A ideia é fazer pedidos claros e específicos para que as outras pessoas compreendam o que verdadeiramente nos importa e saibam como contribuir para a nossa vida, dando a elas a oportunidade de nos dizer sim ou não para o que estamos pedindo. Se não temos abertura para escutar um não ao nosso pedido, então estamos fazendo uma exigência, e não um pedido.
Quando fazemos pedidos, damos ao outro a oportunidade de colaborar com o que é importante para nós. Isso encoraja os filhos a colaborarem de forma voluntária, em vez de se sentirem obrigados.
Aplicando a CNV nas Relações com os Filhos
A prática da CNV no cotidiano familiar pode transformar a maneira como você se comunica com seu filho, criando um ambiente de respeito e cooperação. Veja algumas dicas de como você pode aplicar a CNV em casa:
Ouça ativamente
Antes de responder a uma situação, dedique um momento para realmente ouvir o que seu filho está dizendo. Isso mostra que você valoriza suas palavras e está disposto a entender seu ponto de vista.
Evite rótulos e críticas
Em vez de criticar o comportamento do seu filho, descreva o que você observou e como isso o fez sentir. Por exemplo, ao invés de dizer “Você é desorganizado!”, tente “Notei que seus brinquedos estão espalhados pela casa, e isso me deixou preocupado com a bagunça.”
Expressar sentimentos sem culpabilizar
Compartilhe como certas situações afetam suas emoções, sem atribuir culpa ao seu filho. Isso pode abrir um diálogo mais empático. Por exemplo, “Fico triste quando vejo que você não fez o dever de casa, porque me preocupo com seu aprendizado.”
Faça pedidos claros e possíveis
Ao invés de dar ordens, faça pedidos que seus filhos possam entender e aceitar. Por exemplo, “Você pode, por favor, guardar seus brinquedos depois de brincar?” ao invés de “Guarde seus brinquedos agora!”
Benefícios da CNV nas Relações Familiares
A Comunicação Não-Violenta não se limita à relação entre pais e filhos; ela também pode ser um grande aliado na comunicação entre os próprios pais, aqui alguns exemplos de como ela pode ajudar nas relações familiares:
Fortalecimento do vínculo afetivo
A CNV promove uma conexão mais profunda, baseada no respeito e na empatia. Compreendendo as necessidades e sentimentos do outro, é mais fácil oferecer apoio mútuo, fortalecendo o relacionamento.
Redução de conflitos
Expressando sentimentos e necessidades de forma clara, sem julgamentos, muitos desentendimentos e conflitos podem ser evitados.
Desenvolvimento de habilidades sociais
Crianças que crescem em um ambiente onde a CNV é praticada tendem a desenvolver melhor suas habilidades de comunicação e empatia, preparando-se para interações sociais mais saudáveis.
Ambiente familiar harmônico
Com menos conflitos e mais compreensão, o ambiente familiar se torna mais acolhedor e seguro para todos os membros da família.
Dar o exemplo
Ao praticarem a CNV entre si, os pais se tornam modelos para seus filhos, que aprenderão, pelo exemplo, a se comunicarem de forma respeitosa e empática.
A CNV é mais do que uma técnica, é uma filosofia de vida que promove o respeito, a empatia e a compreensão mútua. Podendo ser uma alternativa para a construção de uma comunicação e escuta mais empática e clara. Se você ficou interessado(a) nessa prática, recomendamos o livro Comunicação Não-Violenta, para aprofundar os conhecimentos.